quarta-feira, 30 de maio de 2012

O RESTO DO MUNDO - GABRIEL, O PENSADOR

O RESTO DO MUNDO - GABRIEL, O PENSADOR (SE LIGA NA LETRA!!!) Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela Eu me chamo de cheiroso como alguém me chamou Mas pode me chamar do que quiser seu dotô Eu num tenho nome Eu num tenho identidade Eu num tenho nem certeza se eu sou gente de verdade Eu num tenho nada Mas gostaria de ter Aproveita seu dotô e dá um trocado pra eu comer... Eu gostaria de ter um pingo de orgulho Mas isso é impossível pra quem come o entulho Misturado com os ratos e com as baratas E com o papel higiênico usado Nas latas de lixo Eu vivo como um bicho ou pior que isso Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou... Eu num sou ninguém Eu tô com fome Tenho que me alimentar Eu posso num ter nome mas o estômago tá lá Por isso eu tenho que ser cara-de-pau Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal Tenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maior do que a moral Eu sou sujo eu sou feio eu sou anti-social Eu num posso aparecer na foto do cartão postal Porque pro rico e pro turista eu sou poluição Sei que sou um brasileiro Mas eu não sou cidadão Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar E o meu banheiro é a rua E sem papel pra me limpar Honra? Não tenho Eu já nasci sem ela E o meu sonho é morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar E eu não tenho perspectivas de sair do lugar A minha sina é suportar viver abaixo do chão E ser um resto solitário esquecido na multidão Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto do mundo Eu num sou ninguém Eu num sou nada Eu num sou gente Eu sou o resto do mundo u sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto Eu num sou ninguém Frustração É o resumo do meu ser Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho uma chance Deus! Me diga por quê? Eu sei que a maioria do Brasil é pobre Mas eu num chego a ser pobre eu sou podre! Um fracassado Mas não fui eu que fracassei Porque eu num pude tentar Então que culpa eu terei Quando eu me revoltar quebrar queimar matar Não tenho nada a perder Meu dia vai chegar Será que vai chagar? Mas por enquanto Eu sou o resto O resto do mundo Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto do mundo Eu num sou ninguém Eu num sou nada Eu num sou gente Eu sou o resto do mundo u sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo Eu sou o resto Eu num sou ninguém Eu num sou registrado Eu num sou batizado Eu num sou civilizado Eu num sou filho do Senhor Eu num sou computado Eu num sou consultado Eu num sou vacinado Contribuinte eu num sou Eu num sou comemorado Eu num sou considerado Eu num sou empregado Eu num sou consumidor Eu num sou amado Eu num sou respeitado Eu num sou perdoado E também sou pecador Eu num sou representado por ninguém Eu num sou apresentado pra ninguém Eu num sou convidado de ninguém E eu num posso ser visitado por ninguém Além da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão da minha existência Por quê que eu nasci? Por quê tô aqui? Um penetra no inferno sem lugar pra fugir Vivo na solidão mas não tenho privacidade E não conheço a sensação de ter um lar de verdade Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo Mas eu queria morar numa favela amigo Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela Eu queria morar numa favela O meu sonho é morar numa favela.

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